28.8.07

O nome do homem

Texto encaminhado pela Queridíssima Iza Lunarbelle

"Literatura não é apenas a arte do absurdo. É, antes de tudo, a arte do inútil. A ela só se dedica o rebotalho da humanidade. Principalmente nos dias que correm, em que já não é mais possível falar sequer de literatura didática, à maneira de Homero e Dante. Prosa e poesia a serviço da ética e do intelecto? Nevermore. Baudelaire e Joyce desbancaram a literatura "a serviço de". Deus está morto – Nietzsche. Se Deus está morto, tudo é permitido – Dostoievski. Se tudo é permitido, vamos ao pacto – Klaus Mann (depois de Goethe). Literatura é o pacto xamânico com o diabo, sendo o pandemônio o último reduto do pensamento cognitivo. Literatura é morder o próprio rabo – em público. E há senhores que fazem isso há tanto tempo – às favas o pudor! – que já passaram a embolsar, sem enrubescer, altas somas de dinheiro pelo espetáculo. Literatura é pão e circo – instante em que o grotesco deixa de ser obsceno.
Conseqüentemente, o pior vício que um escritor pode alimentar chama-se Crença na Educação pela Arte. Auto-engano também é um bom nome para essa impostura desumana. Literatura não passa de vaidade, na melhor acepção da palavra. Ainda mais quando o escritor faz pose de humilde diante das câmeras de tevê. A genialidade é um acidente biológico que não deve ser perseguido a qualquer preço. Tanto o escritor medíocre quanto o genial procuram com sua obra granjear a estima da tribo. Por isso gastam apenas parte do tempo escrevendo. A outra parte usam para desocupar as estantes, a fim de colocar no lugar das obras do passado a sua. Algumas destas obras injetam sangue novo na cultura. A maioria, não. Mas quem se importa? Amor e morte, sexo e assassinato – os mesmos cinco ou dez textos primordiais têm sido reescritos e descartados há milênios. Descartados não, devorados. O nome do monstro? Literatura."

Nelson de Oliveira

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