1.8.07

Foucault e Bauman (conversas possíveis)

"Da exclusão à cultura do lixo, ou o refugo humano..."

Mudaram as formas de repressão e os modos de exercê-la: mais sutis, disfarçados, os instrumentos repressivos se diluem no magma da sociedade pós-moderna, ou modernidade líquida, como caracteriza Bauman, em que os valores do capitalismo tardio produzem flexibilidade, mobilidade, versatilidade, transitoriedade, incerteza, necessidades transformadas em virtudes que, num movimento paradoxal, silencia e faz desaparecer essa mesma sociedade, através dos fluxos gerados pela supremacia do mercado e a crença na tecnologia. Em sua análise, este autor descreve a existência da elite global, que toma todas as decisões econômicas importantes e que flutua além do controle humano; de uma sociedade excludente, que enfatiza a descartabilidade humana; o desaparecimento da confiança e a instalação da suspeita universal; a cultura do excesso e o enfraquecimento das relações interpessoais. As vítimas são as baixas humanas produzidas pelo progresso do próprio homem, ou o que Bauman chama de refugo ou lixo humano, em Vidas desperdiçadas. Utiliza a metáfora do resíduo para desvelar algo profundo que atinge também os seres humanos, nós mesmos em nossas vidas cotidianas, podemos a qualquer momento, ser atingidos pelo princípio da obsolescência, o que não quer e não pode ser reciclado, o que é expulso, descartado, inútil. Esvaziada de confiança, saturada da suspeita, a vida é assaltada por antinomias e ambigüidades que ela não pode resolver.

Na dissolvência que marca a vida contemporânea, também os laços entre as pessoas, os vínculos, as relações, são profundamente atingidos, atravessados pela incerteza, a precariedade, a liquidez. D0 molar ao molecular, ou vice-versa, essas são as forças que nos constituem.

A sociedade e as instituições desenvolvem mecanismos de separação, rotulação, localização - de pessoas, grupos, idéias. Estes mecanismos, de acordo co Foucault, são poderosos produtores de verdades e de ações, que regulam a vida das pessoas. Ao fazer isso, porém, produzem uma complexidade enorme de outros tantos movimentos, atravessado que é o campo social por forças de várias ordens, naturezas e intensidades.

Alguns de nós somos reconhecidos em nossos discursos e práticas, outros não. Alguns de nós somos percebidos como "normais", outros não. Alguns de nós temos acesso à educação, à cultura, à socialização, à reprodução, ao trabalho, outros não. E os sistemas de exclusão se tornam cada vez mais impessoais, mais abrangentes, mais "invisíveis". Somos todos participantes desse jogo, pois as formas de exclusão são próprias da civilização, como diz Foucault , esclarecendo que os regimes de verdade que se instalam - e constituem a cultura de uma época – trazem consigo diferentes formas de exclusão, juntamente com as ironias e contradições que permeiam esses processos, mostrando que as separações são paradoxais porque produzem, ao mesmo tempo, resistências, contemporâneas e integráveis às estratégias de poder. São porosas, misturadas, complexas. Constituem uma economia política da verdade. Estudando os grandes modelos de exclusão – dos loucos, dos prisioneiros –, mostrou que, na sociedade ocidental, as exclusões são acumuladas, nunca vêm sozinhas, e constituem uma separação original, um princípio estrutural, fundante, que impõe limites.

Com Marisa Eizirik
De 27 de agosto a 15 de outubro de 2007,
às segundas-feiras, das 19 às 20h30
Na Palavraria – Livraria-Café


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90420-111 - Porto Alegre
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