16.12.10

Mais uma lenda urbana

Então Doutor, tudo começou num dia chuvoso de dezembro. Eu e meu marido fomos tirar dinheiro num caixa eletrônico de um mercado que tem perto da minha casa, onde eu costumava fazer isso. Tinha um cara no caixa, cheio de contas pra pagar na mão. Atrás dele tinha mais um sujeito e logo depois éramos nós. Assim que o cara que estava na fila terminou a operação, ele pegou o celular e fez uma ligação, bem ali por perto, e mais oi menos uns 4 metros. Eu sempre suspeito desse tipo de ação, sabe Doutor? Já tinha acontecido antes, no mesmo local. O tal suspeito então voltou para a fila, atrás de nós. Eu não sou trouxa sabe doutor? Quando o cara que estava na nossa frente finalizou, me fiz de louca e falei para passar na nossa frente, informando que não encontrara meu cartão na bolsa. Era mentira e meu marido já me olhou meio atravessado, ele acha que eu sou neurótica. Acontece que o suspeito ficou incomodado, sabe? Atrapalhei o plano dele. Deu uma enrolada, finjiu que fez alguma coisa ali no caixa e saiu às pressas, nem finalizou o atendimento. Chamei a atenção dele, informando este fato, mas ele não deu importância. Enquanto eu tirava a grana, meu marido contou que o suspeito foi até a lotérica e, quando estávamos saindo, ele estava retornando ao mercado. Saindo de lá, demos de cara com um motoqueiro muito, muito suspeito. Fomos a uma loja ali ao lado, pegamos o carro e subimos a rua do mercado. Eu lembro que havia pensado em pegar outro caminho, não sei porque não fiz isso. Passamos pelo motoqueiro, que continuava no mesmo lugar, só que falando no celular.
Chegando na primeira esquina, olhei pelo retrovisor e vi o suspeito subir na garupa da moto e daí pensei: 'fudeu'. Acelerei o carro e entrei numas ruazinhas estreitas, meu marido já tava apavorado... Ainda dei umas voltas, tentando despistar os filhos da puta. Tìnhamos que voltar pra casa pra pegar umas coisas e quando comecei a subir a rampa da garagem, adivinha o que estava atrás do nosso carro?

Chegaram metendo o terror. O suspeito falou pra eu lançar a grana e o motoqueiro pegou meu marido pelo braço e entrou com ele dentro de casa. Pegou um note velho, nossos celulares e 300 dólares que estavam embaixo do colchão. Coisa rápida, foi tudo muito rápido. Quando ele saiu, jogou meu marido pro meu lado, ficamos naquele momento de frente para o suspeito que estava obviamente armado. O motoqueiro subiu na moto e gritou ao suspeito: vamos embora! Mas aquele desgraçado queria mais, olhou pra nós dois e disse: e deixo esses babacas viver?
Nessa altura o motoqueiro já estava na porta da garagem e gritou mais uma vez 'vamos'! E o suspeito olhou com uma cara de deboche para nós 2 e deu um tiro no ombro do meu marido seguido de uma risada sarcástica. Doutor, a cólera que tomou conta de mim naquele momento foi indescritível. Quando od esgraçado se virou, saí correndo e me joguei em cima dele e começamos uma luta corporal. Apanhei mas consegui tirar a arma do cretino e não tive dúvidas: descarreguei no filho da puta. E confesso que senti até prazer. O desgraçado tinha atirado no meu marido!!! E por que? Pra que? Já tínhamos dado tudo pra ele, cretino. E é claro que nessa altura o motoqueiro já tinha se mandado, ou o Doutor acha que bandido é parceiro?

Fiquei ali, parada, olhando aquele presunto fresco. Menos um filho da puta pra meter o terror nesse mundo caótico. Eu estava tão empolgada com o meu feito que ainda nem tinha ido olhar como estava meu marido, afinal ele estava baleado! Eu estava realmente hipnotizada... De repente ele com muita dificuldade e sangrando bastante chega perto de mim e fala: vamos fechar o portão! E eu retruquei: que nada, deixa aberto pra todo mundo ver o que deve ser feito com esses filhos da puta. Aproveita e liga pra polícia avisando que tem menos um nas ruas. Fiz um favor pra eles.
A polícia militar chegou, eram uns 4 carros. E eu ainda estava ali parada, olhando o defunto, orgulhosa do meu feito. Os PMs vieram na minha direção e um deles indagou o que havia acontecido. Expliquei e solicitei para chamarem a SAMU pro meu marido. Tudo isso e eu não tirava os olhos do meu troféu. O policial se aproximou um pouco mais e ordenou: 'senhora, solte a arma' soltei e ainda retuquei: 'tudo bem autoridade, tá descarregada mesmo'. Em seguida chegou a SAMU e a vizinhança toda. Também não demorou muito para a imprensa aparecer, aqueles urubus. Ficaram no portão de casa, amontoados feito varejeiras na merda, fazendo o serviço sujo deles. E eu ali, parada, olhando o corpo. Já com o circo armado, duas policiais femininas pediram para eu acompanhá-las até a delegacia, pois tínhamos que registrar o boletim de ocorrência. Olhei ao redor, procurando meu marido. Uma delas me informou que ele já havia sido atendido e encaminhado ao pronto socorro. Antes de entrar na viatura tive que passar por aquele mosquedo e logo um idiota pulou na minha frente: 'Senhora, senhora, por favor, aqui, senhora. A senhora matou um homem s sangue frio?' Aí eu não aguentei, fiquei furiosa! Deu um empurrão no idiota, fiquei cara a cara com ele e gritei: 'que que é, tá com peninha do bandido??? Chama a porra dos direitos humanos então, filho da puta!' Nesse momento uma das PMs me puxou e me socou na viatura.

Desde então, não consegui mais parar Doutor. Fiquei obcecada em tirar esses bandidos das ruas. Consegui duas armas - aliás, não foi nada difícil. Eu saía à noite para ir aos caixas eletrônicos, momento que seria mais perigoso para fazer isso. Eu ia sozinha, pra ser uma presa mais fácil. Fiz isso inúmeras vezes e fui seguida duas, sempre a mesma coisa, uma moto com dois ocupantes. Eu já deixava as armas no banco do passageiro e quando os filhos da puta encostavam ao meu lado e o carona descia, eu já saía atirando, através do vidro mesmo. Era sempre em uma rua deserta, sem testemunhas. Eu fazia de propósito, sabe? Depois, levava o carro pra uma oficina onde os caras não faziam perguntas, era só pedir pra trocar o vidro e pagar. Pegava um taxi, num buteco a umas 3 quadras de lá e quando chegava em casa informava que o carro tinha quebrado e eu havia chamado um guincho. Então era só ligar a TV no outro dia e ver a chamada: motoqueiros executados ontem à noite na cidade.

Sabe Doutor, faz um tempo que as minhas saídas são mal sucedidas. Eu saio praticamente toda a semana, mas nada acontece. E sabe, eu preciso matar. Onde é o banheiro?
Entrou, tirou uma das automáticas da bolsa, colocou o silenciador, passou baton e abriu a maçaneta.

Autor desconhecido.

11.12.10

Visitando um amigo



Era uma tarde de verão em Forno Alegre e estava teclando com ele. Eu já tinha pedido demissão, curtindo uns dias antes do casório. Recebi um convite para ir até lá - não pensei duas vezes, atravessei a Redenção e peguei o busão Jardim Ipê, foi fácil já que conhecia muito bem aquelas bandas de lá. Fomos até o Claudio pegar umas cevas e depois direto pra casa. Muita piração, papo legal. O Dent é um pirado muito sangue bom. O colorado do cabide também nos fez compania, muito, muito trago mesmo. Fiquei tirando fotos de tudo na casa dele: do escorredor de louça, da geladeira, do banheiro... Viagens pela web, sonhos, planos... Bateu uma baita felicidade hoje, ao teclar com ele, quando me contou que a Banda tá fazendo um tour lá no sul. Do caralho!
Ainda naquele dia, peguei um taxi amigo e desembarquei na Calçada da Fama, pra encontrar umas malucas. Mas agora não lembro se foi nesse dia que tomei o sacrifício...

Sucesso e vida longa pra Cigarro Elétrico!