30.11.10

Jack

Jack entrou pela janela de seu quarto iluminado apenas pelos raios lunares que chegavam junto com ele. Até bem pouco Jack estava andando sem destino pelas ruas da cidade vazia em um de seus passeios secretos, acompanhado apenas de um par de chinelos de dedo.
Cabelos ao vento, respiração curta e uma enorme vontade de socar o primeiro que aparecesse pela frente. Tinha aquela raiva reprimida dentro de si, e mesmo que não soubesse isso o consumia cada vez mais.
Já deitado em sua cama, olhou a sua volta e viu o violão encostado no canto, pensou em pega-lo para tocar, mas preferiu deixar isso para outra hora, não queria atrapalhar o sono de sua mãe. Adormeceu.

Céu azul, poucas nuvens manchando aquele cenário, os raios solares invadiram o quarto e bateram no seu rosto. Meio atordoado, levantou-se e foi se arrumar, tinha muito o que fazer. Aos poucos foi em direção a cozinha e lá estava sua mãe com um copo de café e uma torrada nas mãos.
-Onde esteve ontem? interroga sua mãe sem demonstrar muita precocupação.
-Por ai, senti um pouco de falta de ar, quis sair um pouco.
-Tome cuidado, depois de uma certa hora as ruas ficam perigosas, já conversamos sobre isso. E outra você não acha que tem tempo sufi....
A partir desse momento sua mente já estava em outro lugar. Imaginou um escritório com movéis em tons escuros, uma luminária verde em cima da enorme mesa de trabalho, e de longe se reconheceu do outro lado da mesa, com ar preocupado olhava para uma faca com cabo de madeira entalhado alguns dizeres que não sabia o que significava e a morte ao seu lado segurando sua foice sussurrava algumas palavras em seu ouvido. Pegou a faca de cima da mesa segurou firme em suas mãos e a levou em direção ao pescoço, um fio de sangue escorreu e com um gesto bruto puxou a faca abrindo um corte profundo em sua carganta. O sangue se espalhou pelo escritorio todo, a morte segurou pelo seu cabelo arrancando-lhe a cabeça do corpo e saiu rindo atravenssando a parece.
O ar saiu do peito como em um grito "Não!". Sua mãe olhou assustada, deixou cair o copo no chão e parou de falar bem na hora que estava contando sobre o filho de uma vizinha que fora sequestrado enquanto brincava no parque.
-Desculpa, não sei o que direito foi isso, parecia que estava vendo um filme muito real dentro de minha cabeça.
-Filho, você tem usado drogas?
-Não, não. Você sabe que eu não faria nada assim. Isso foi só um sonho.
-Tome seu café e vá arrumar seu quarto.

O relacionamento de Jack com sua mãe era tranquilo, ela não demonstrava preocupação por ele, e ele não dava muito trabalho. Trabalhava para um senhor em uma marcenaria pela manha até de tarde, e a noite ia para a faculdade onde fazia Física e queria trabalhar como pesquisador, acreditava que tem muito ainda para ser descoberto e estudato e era ele quem iria fazer tudo isso. Seu pai tinha falecido a pouco tempo, por isso sua mãe achava que essas saídas noturnas eram normais.
Tinham uma casa simples, alguns quadros pela parede, barcos, rostos e paisagens enfeitavam a casa, sua mãe mesmo que pintara. Os móveis eram em tons escuros, geralmente mogno. Era uma casa comum com pessoas comuns, como deveria ser.

Terminou seu café e saiu para trabalhar, na marcenaria o trabalho era tranquilo. Cortava e lixava madeiras de forma automática, quando ligava a máquina aquele barulho o tirava da realidade e a partir de então ele se tornava um robo e seus pensamentos passeavam pela sua mente. Nas horas vagas pegava alguns pedaços de madeira e construia algumas peças como carros de brinquedo, casas de boneca e o seu mais novo e preferido tinha sido um violão formado com uma caixa velha e um cabo para fazer o braço, se morasse no Mississipi falaria que era uma Cigar-box-guitar, mas apenas a chamava de violão.
Quando deu conta já estava na hora de ir embora, nisso seu chefe já não estava mais, teria que esperar então ele voltar para não deixar a oficina sozinha, aproveitou para trabalhar em alguma peça nova. Não conseguiu, quando olhou para aquele violão formado por madeira velha parou de pensar em qualquer outra coisa e foi ver o que poderia fazer com ele. Olhou em volta procurando alguma coisa que poderia fazer como corda, não encontrou nada por ali, lembrou-se da velha caixa de pesca que seu chefe guardava na oficina. Pegou algumas linhas de expessuras diferentes e assim fez um tipo de violão com 4 cordas, apesar de ja saber tocar violão, não muito bem, aquilo era diferente, era uma maneira diferente de fazer musica, era uma maneira diferente de entrar em transe e sumir. Afinou ruidosamente as 4 cordas de pescar, a acústica era grotescamente ruim, mesmo assim não tirou o fascínio do garoto, suas primeiras notas foram alguns acordes de um blues que tinha aprendido no violão. Sem se dar conta seu chefe já tinha chegado e estava parado na porta da oficina obsevando com cuidado tudo que o garoto fazia.
- Jack, você deveria ir agora se não quiser perder hora para a faculdade.
- Sr. Isaac, não tinha visto o senhor, estava só esperando o senhor chegar para eu poder ir embora, hoje não posso perder aula, tenho algumas coisas importantes para resolver na escola. - Jack tinha essa mania de chamar a faculdade de escola, não gostava da ideia de chamar aquele lugar de faculdade como os outros jovens só para parecerem mais maneiros.
-Tudo bem, pode ir agora.
A oficina funcionava na garagem do seu chefe, Sr. Isaac. Ele é um bom homem, sem esposa, sem filhos, apenas ele e a oficina. Não comentou nada com o garoto, mas sentiu um enorme prazer em ve-lo tocando uns instrumento que tinha feito com as proprias mãos, já tinha feito algo assim, porem com seus dedos curtos e travados não o deixaram fazer mais que barulho.

By C.Fox

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